Duas semanas atrás, estava vivendo um dos melhores momentos da minha vida. Sentia cheia de esperança e confiança.
Meu professor de artes, que eu não deixo em paz desde 2019 e convenci ser meu amigo com brownies e cinnamon rolls, me convidou para participar numa feira de arte.
Não tenho estudo superior em artes, e o convite dele, espontâneo e sem minha propina alimentar, interpretei como uma afirmação do meu esforço. Me senti muita grata pelo reconhecimento, e orgulhosa de tudo que eu tenho produzido nesses últimos três anos. Nada espectacular em termos de técnica, mas interessante e autêntico.
Além disso, comecei escrever biografias profissionais. A possibilidade de ganhar bem, fazendo algo que eu realmente gosto de fazer, me animou. Consegui meu primeiro contrato por indicação e pareceu que eu estava no caminho certo de muito mais trabalho. A mesma semana, alguém solicitou um orçamento para pintura artística num consultório—pq eu falei que fazemos e vendi nossos serviços (sou péssima nisso).
Meu aniversário foi dia 4 de maio. Tenho poucos amigues, mas os que eu tenho são solidários e fantásticos. Acreditam em mim, querem meu bem, e mostram seu amor em palavras e ações.
Como eu disse, estava mega bem.
E…a vida, sendo que a vida é, mudou.
Não vendi nada na feira (mas ganhei um abraço do meu pro/amigo, então não foi uma perda total).
Entreguei o primeiro esboço da biografia, e o cliente falou que não gostou e nunca mais respondeu.
Enviei o orçamento solicitado, com desenhos originais e muito caprichado, e a pessoa não respondeu mais, depois de dizer que recebeu.
Alguém que eu amo muito, está sofrendo demais com a crise econômica no Brasil e não tenho como ajudar, por causa de ajuda que eu recebi em 2021 (devido a pandemia) eu possivelmente vou precisar pagar impostos. Com dinheiro que não tenho, pq não consigo fechar contratos ou vender arte.
Bolsonaro está crescendo na intenção de votos. A corte suprema dos EUA está com uma configuração extremamente conservadora e está eliminando direitos, rejeitando a base legal judicialmente, que justifica casamento interracial, casamento homosexual, etc. Ou seja, não é só sobre aborto. É sobre um ataque contra liberdade pessoal. Conheço pessoas que fizeram aborto nos EUA, pessoas que não conseguiram aqui no Brasil, e está difícil aceitar que existe uma tecnologia médica que vai ser negado a uma parcela da população significativa por causa de crenças religiosas.
Minha filha está doente, faz uma semana, e a pediatra dela questionou, pq ela dorme no colchão no meu quarto e não tem seu próprio quarto. E não tem, pq eu sofri um golpe na reforma de nossa casa e não consigo achar alguém que faça a reforma para a pouca grana que eu tenho.
Estou sentindo péssima.
Fracassada, frustrada, ansiosa.
Tirando a morte de alguém querido ou sofrendo uma violência pessoal, é impossível imaginar me sentir pior.
Compartilho isso pq não tenho vergonha de sentir coisas.
Sei eu aprendi uma coisa útil nos meus 43 anos nessa planeta é isso, emoções são todas válidas e são informação, não fatos.
Estou SENTINDO algo. Não sou algo. E o que eu sinto nos meus piores momentos é só uma parte de que eu sinto na vida. E aconteça o que acontecer, vou conseguir lidar.
Sempre fui uma pessoa de sentir coisas profundamente. Altos e baixos. Por muito tempo eu levei essas sensações como a verdade absoluta. Eu entrava com tudo naquela sensação e esquecia o outro lado.
Sempre gostei da minha intensidade, mas tem consequências disso também. Tomo decisões precipitadas as vezes e já fui muito extrema nas minhas reações.
Uma falta de equilíbrio e contexto pode ter consequências mega graves. Meu pai se suicidou com 59 anos. Uma combinação de fatores complexas o levaram para essa decisão, e parte disso era a convicção que não tinha saída. Para ele, a vida nunca mais ia melhorar.
Sentir feliz e otimista, acreditar que a vida está cheia de possibilidades a meu favor, é bem mais agradável. Mas aceito que a vida tem o outro lado.
Se eu não receber outro contrato, se eu precisar pagar impostos, se a situação da minha amiga piorar, não sei exatamente o que eu vou fazer mas sei que eu sou capaz de lidar com qualquer situação.
Isso é o que ninguém falou para mim quando eu era criança, e eu tento dizer para minha filha com frequência: - somos capazes de enfrentar e superar as dificuldades. Nem sempre com facilidade ou prazer, mas conseguimos. (óbvio, algumas circunstâncias institucionais são impossíveis para um individuou superar—como violência policial ou racismo científico por exemplo)
É essa msg que eu queria compartilhar hoje, para mim mesma e para quem precisar: - não sei se coisas vão melhorar ou se tudo vai ficar bem, mas sei que conseguimos lidar com quase qualquer eventualidade.
Força migues e vamo que vamo.
bjooooooos